Muitas empresas enfatizam a rapidez na entrega e o foco em resultados como meta principal de seu modelo de negócio. No entanto, em diversas discussões recentes sobre liderança, por exemplo, temos visto que tal ênfase vem sendo relativizada, de modo a deslocar o foco maior de preocupação. Assim, ganha espaço a importância das interações entre as pessoas para a qualidade das entregas e o aprimoramento de resultados. Nesse sentido, o conceito de mindset ágil é um ponto bastante relevante a se considerar para um novo entendimento organizacional.
“O mindset ágil não procura acelerar as coisas: na prática ele procura identificar mais rápido os acertos e erros; por isso, ele é chamado de ágil”, diz o professor e executivo da Projeto TI 360, Reinaldo Nogueira.
Palestrante do nosso próximo webinar, O novo mindset ágil na gestão de projetos e gestão executiva, ele conversou conosco sobre o conceito de mindset ágil, sua aplicação nas empresas no contexto atual e as vantagens de uma cultura organizacional pautada nesse tipo de mindset.
Quer saber mais sobre o assunto? Confira abaixo a íntegra da conversa com o Profº Reinaldo e não deixe de se inscrever, antes ou depois da leitura deste artigo, em nosso webinar clicando aqui.
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Resumidamente, como você definiria o conceito de mindset ágil? Quais seriam as suas máximas?
O conceito de mindset ágil tem a ver com agir rápido, criar protótipos, interagir o máximo possível para que, a partir da interação, você tenha modelos muito mais aplicáveis à realidade do que simplesmente algo focado somente no planejamento e, depois dele, numa entrega, sendo que, no meio do caminho, entre o planejamento e a entrega, você perde visibilidade. Com o mindset ágil você também faz o planejamento, mas entrega a partir de várias interações, como eu coloquei anteriormente, definindo o projeto no gerúndio: gerenciando, implantando, interagindo, complementando e assim por diante. Quanto à máxima do conceito, ela é simples e direta: errar o mais rápido possível e acertar o mais rápido possível. O mindset ágil não procura acelerar as coisas: na prática ele procura identificar mais rápido os acertos e erros; por isso, ele é chamado de ágil.
Em que medida o conceito de mindset ágil pode se relacionar com a transformação digital?
O mindset ágil pode interpretar melhor como a empresa constrói a ponte entre o que ela tem hoje e o que ela deseja lá na frente. Toda transformação parte do princípio de que você sai de um lugar e vai para outro. Imagine o efeito de uma ponte: você sai da face sul e vai para a face norte. Existe um processo de transformação, uma entrega, de um ponto a outro. E aqui é exatamente a mesma coisa: quando se fala do conceito de mindset ágil identificado com a transformação digital, a grande pergunta é como você vai poder identificar rápido e acelerar o seu relacionamento (não a entrega, mas o relacionamento) para transformar rapidamente a sua empresa em uma organização digital, que entrega resultados, que usa tecnologia, que ouve os clientes através dessa tecnologia e que faz um relacionamento muito íntimo e próximo com o cliente por meio dela.
Na prática você acredita que a aplicação de tal conceito já vem sendo feita de modo abrangente e consistente nas organizações?
Definitivamente, não. As empresas estão olhando hoje para a forma como elas podem entregar mais rápido, acelerar o processo e fazer mais, já que estão entregando mais rápido. E como dito anteriormente, o papel do mindset ágil é você criar se relacionando mais rápido, não criar mais rápido em si. A grande preocupação é compreender e estruturar tudo o que a empresa precisa para justamente poder responder às perguntas de negócio que o mercado coloca a todo momento. Ele entra para interpelar e interpretar o mercado e, assim, entregar mais rápido a partir do relacionamento. O problema é que as empresas ainda não estão praticando isso. Elas têm o interesse de fazer isso, mas há um viés de entendimento de que se deve cortar o número de pessoas das equipes, entregar mais rápido, produzir mais rápido e mais barato. É isso que vem acontecendo na prática.
De que modo empresas e profissionais podem aprimorar habilidades necessárias para o desenvolvimento de um mindset ágil?
Acredito que uma questão central aqui é buscar pessoas que tenham abertura para ouvir e interpretar. Eu costumo dizer sempre que pessoas que têm o mindset ágil diminuem o tamanho da boca e aumentam o tamanho do ouvido e dos olhos. Porque elas enxergam e ouvem mais e, partir disso, criam ideias baseadas na audição, nos comportamentos, nas experiências. É um ser construtivo, diferente do mindset fixo. Este procura trabalhar sempre da mesma forma, na zona de conforto tradicional que um bom cérebro gosta, de modo que as coisas sejam funcionais. Isso não está errado, afinal, se não fosse assim, nós não seríamos seres funcionais. Porém, como trabalhamos muito com o conceito de modelos mentais, nos adaptamos à prática de repetição do dia a dia. Assim, acabamos não nos preocupando mais em fazer as coisas parando para revisar qual é o melhor caminho e se o caminho atual é o mais eficaz e eficiente. Essa é uma tônica que o mindset construtivo, sem se esquecer da necessidade da prática do dia a dia, procura sempre questionar. Uma pessoa que tem o mindset ágil sempre busca algo diferente, imaginando melhorar sempre. Tem muito a ver com a transformação digital sobre a qual falamos na outra pergunta.
O que você identifica no mundo corporativo como principais empecilhos para a implantação de uma cultura pautada pelo mindset ágil e não apenas por dinâmicas ágeis?
A dinâmica ágil ajuda bastante, porque tem as estruturas e os métodos que você vai aplicar e tudo o mais. Já o mindset ágil tem a característica da persona, do comportamento, da cultura, das atitudes das pessoas perante os atributos e artefatos ágeis. Como uma empresa é povoada por diversas culturas, o que acaba acontecendo como grande empecilho — pelo menos nas primeiras ondas, que acabam sendo mais proibitivas — é justamente o choque entre essas culturas. Por exemplo, na mesa ao seu lado pode ter alguém extremamente ortodoxo, com mindset fixo, que vai trabalhar com você numa solução para a empresa, sendo que você tem uma característica ágil, inovadora, criativa e inconformada com as soluções atuais. É ruim esse convívio? Diria que não, pois gosto dessas misturas heterogêneas, porque elas criam um novo padrão. No entanto, enquanto isso não é implantado, gera empecilhos dentro da empresa. Aliás, eu diria que não se trata de empecilhos, mas de um estágio que a empresa precisa vencer.
Como uma cultura organizacional baseada no conceito de mindset ágil pode colaborar na resposta aos atuais desafios do mundo e romper paradigmas que já não nos servem mais?
Liderança está para pessoas assim como gestão está para os processos. Ou seja, ajuda bastante ter uma liderança que compre a ideia, que dialogue entre os canais da empresa, flexibilizando e facilitando o caminho de inovação e o pensar diferente, e que tenha uma forma diferente e audaz de ver as coisas,. A empresa precisa estar disposta a mudar. Por exemplo, se eu quero mudar, eu tenho que partir do princípio que eu devo ter autonomia e atitude para fazer isso. Eu sou a primeira pessoa que precisa mudar para implantar a mudança dentro de mim mesmo. Eu tenho que comprar essa ideia para depois pensar lá na frente. Uma organização funciona da mesma forma. Se ela está baseada no conceito de mindset ágil e tem o desafio de romper barreiras para isso, ela tem que comprar essa ideia e vendê-la não só internamente, mas do lado de fora da companhia. Inteligência competitiva mora dentro da empresa; vantagem competitiva é como ela é percebida. Então, se uma empresa tem uma inteligência competitiva bem estruturada, composta de pessoas que têm o mindset ágil, com atributos, artefatos e dinâmicas ágeis, se a lição de casa já está feita, cabe agora transformar inteligência competitiva em vantagem competitiva. É o exemplo da ponte que eu trouxe lá atrás: quanto mais rápido você percorrer a ponte da inteligência para a vantagem competitiva, mais facilmente você vai ter sucesso no mercado.
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